O Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Saúde (SES-TO), em parceria com o Ministério da Saúde (MS) realizou nesta quarta,17, e quinta-feira, 18, em Palmas, o Treinamento sobre testagem da enzima Glicose-6-Fosfato Desidrogenase (G6PD) e aplicação do novo algoritmo de tratamento da malária. A capacitação ocorreu no auditório do Anexo I da SES, voltada para profissionais de saúde dos municípios prioritários e do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins (DSEI-TO).
Coordenado pela Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS), o evento integra o Plano de Ação Anual Tocantins sem Malária, que tem como meta a prevenção de casos e do restabelecimento da transmissão da malária no estado. “O treinamento para a implementação do tratamento com a tafenoquina e do teste de G6PD para a malária é muito importante no processo de consolidação da eliminação da doença no Tocantins. É um privilégio estarmos recebendo a equipe do Ministério da Saúde para a realização do treinamento de nossa equipe, e fortalecendo a nossa rede de atenção à saúde”, destacou a diretora de Vigilância das Doenças Vetoriais e Zoonoses, Mary Ruth Batista Glória Maia.
Capacitação
Participaram da capacitação 99 profissionais de 55 municípios tocantinenses. A programação contou com atividades teóricas no período da manhã e práticas no período da tarde, com ênfase na realização do teste de G6PD, manuseio dos kits diagnósticos e aplicação do novo algoritmo terapêutico. O objetivo é que os profissionais capacitados multipliquem o conhecimento em seus municípios, assegurando maior segurança no tratamento da malária e ampliando a vigilância em saúde.
O treinamento foi conduzido pela Coordenação de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde (Cema/DEDT/SVSA), com apoio da SES-TO, e dividido em duas turmas. Na quarta-feira, 17, participaram os municípios das regiões de saúde Amor Perfeito e Bico do Papagaio. Nessa quinta-feira, 18, o treinamento foi ofertado aos municípios das regiões de saúde Cantão, Capim Dourado, Cerrado Tocantins Araguaia, Ilha do Bananal, Médio Norte Araguaia e Sudeste.
“Realizamos um treinamento sobre a implementação da tafenoquina, uma medicação inovadora que vem sendo introduzida de forma gradual no território desde março do ano passado. Trata-se de um medicamento utilizado no tratamento da malária. A grande vantagem da tafenoquina é que ela é administrada em dose única. Assim, quando uma pessoa testa positivo para malária do tipoPlasmodium vivax, ela faz apenas um dia de tratamento com tafenoquina e três dias com cloroquina. Antes, o tratamento durava sete dias, então essa mudança representa um avanço importante. No entanto, para utilizar a tafenoquina com segurança é necessário realizar um teste chamado G6PD, que avalia a presença de uma enzima. Estamos capacitando os profissionais de saúde para utilizar esse aparelho, pois cerca de 5% da população pode ter deficiência dessa enzima, o que contraindica o uso da medicação,” explicou o coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, Alexander Vargas.
Eliminação da doença
O Tocantins vem trabalhando de forma contínua pela sustentabilidade da eliminação da malária. Desde 2020, o Estado desenvolve e atualiza o Plano de Ação Anual Tocantins sem Malária, consolidando estratégias de vigilância, diagnóstico, tratamento oportuno e resposta rápida a casos suspeitos.
“Nosso objetivo vai além da implementação do teste de G6PD e do uso da tafenoquina. Promovemos uma discussão mais ampla sobre os diferentes tipos de malária, seus métodos de diagnóstico e as formas de tratamento. Nos últimos dois anos, ampliamos significativamente o uso do teste rápido para detecção da malária, e este treinamento foi uma oportunidade importante para dialogar com os profissionais de saúde, esclarecer dúvidas, fortalecer a rede estadual e aprimorar as ações de vigilância e assistência. Com a meta de eliminar a malária até 2035, seguimos um plano nacional de eliminação da doença e o estado do Tocantins tem avançado de forma exemplar, já estando na fase de eliminação,” destacou Alexander Vargas, coordenador de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde.
Importância da testagem de G6PD
O diagnóstico da deficiência da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é fundamental para o tratamento seguro da malária causada peloPlasmodium vivax. Isso porque pacientes com deficiência de G6PD podem apresentar complicações graves quando tratados com medicamentos como a primaquina ou a tafenoquina.
Desde a Portaria SECTICS/MS nº 27/2023, tanto a tafenoquina (terapia de dose única para cura radical do P. vivax) quanto o teste quantitativo de G6PD passaram a integrar o Sistema Único de Saúde (SUS), tornando a testagem obrigatória antes do uso da nova medicação.
A tafenoquina representa um avanço importante no tratamento, pois além de reduzir o tempo necessário de administração também contribui na prevenção de recaídas, ao eliminar as formas latentes do parasito no fígado (hipnozoítos), responsáveis pela reativação da doença.
O enfermeiro e representante do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins (DSEI-TO), Leiderlan Dias Gama, participou da capacitação e ressaltou a importância do treinamento para a atenção à saúde indígena. “Essa capacitação foi extremamente importante para nós, que atuamos na saúde indígena. Nosso território abrange mais de 14 municípios e conta com sete polos-base que atendem as comunidades indígenas. Essas populações estão em áreas de difícil acesso, e o atendimento depende diretamente das equipes de saúde indígena locais. Por isso, é fundamental estarmos preparados para atuar como multiplicadores nos territórios, capacitando as equipes para realizarem a testagem sempre que necessário. Mantemos uma vigilância constante em relação à malária, justamente por estarmos inseridos na região da Amazônia Legal, onde o risco é maior e o monitoramento contínuo é essencial,” destacou.
Situação epidemiológica
Nos últimos dez anos, de 2015 a 2024, o Tocantins fez avanços importantes na luta contra a malária em seu território. Durante esse período, foram registrados 291 casos, sendo 51 de transmissão local e 240 de importação. Isso representa apenas 0,02% do total de casos na Região Amazônica. Além disso, entre 2020 e 2022, o estado conseguiu ficar por três anos seguidos sem registrar nenhum caso de transmissão local.
Em 2023, foram notificados 31 casos de malária no estado, dos quais 25 eram importados e seis advindos de transmissão local, concentrados nos municípios de Almas, Conceição do Tocantins e Porto Nacional. Já em 2024, todos os 24 casos registrados foram importados, provenientes tanto de outros estados da Região Amazônica quanto de países vizinhos.
Até agosto de 2025, o Tocantins contabilizou apenas três casos importados, representando uma redução de 80% em relação ao mesmo período de 2024, quando haviam sido registrados 15 casos importados. O perfil epidemiológico dos casos de 2025 indica que 100% foram importados, em sua maioria acometendo homens adultos (67%), de 18 a 39 anos (89%), com educação escolar básica (78%), que desenvolvem atividades que expõe ao risco de adoecer por malária (78%), o que evidencia a necessidade de manter atenção redobrada sobre populações móveis e migrantes, grupos que representam maior vulnerabilidade para a reintrodução da doença no estado. Esses indicadores evidenciam os avanços alcançados e a importância da manutenção das ações de vigilância e do fortalecimento da rede de atenção à saúde.